Thursday, November 8, 2007
amor em partes desiguais II
Por todo o lado luz vermelha. No ar, filtrado de fumo de cigarros e ganzas. No cheiro a transpiração da t-shirt colada ao corpo, no cheiro a testosterona e sexo dos casais que dançam, encostam, deslizam na pista, colados a outros corpos, também eles a dançar ao ritmo cadente da música. Vermelho… nas paredes, nos espelhos… Abana a cabeça, sinte o ritmo a aumentar, a cadencia a fazer mexer os músculos, o pescoço que vai rodando a absorver tudo aquilo.. Vermelho. As caras, os cabelos que voam, os espelhos que entrevê por segundos nas paredes, os reflexos de uma massa de carne que se mexe a um ritmo desconcertante mas quase uníssono…. Vermelho, ritmo… mais alto, mais forte, vermelho, mais verme lho. Uma espiral interminável, de ritmo quase orgásmico, eleva-se sobre a pista, sobre a carne, sobre o fumo, a musica, o vermelho e... acontece. Explosão. Boca aberta de orgasmo, o corpo a vibrar com os graves das colunas, o coração em todo o lado e vermelho como destino. Deixa de ser ela, agora é matéria flutuante sobre a pista, misturada no ar concentrado.. É os olhares que se trocam e beijos lânguidos.. vive nesses duelos de línguas, nessas gotas de absinto que deslizam pela garganta, nas mãos que se tocam.. Ela é tudo aquilo. É o vermelho, que a consome, e pela mente disparam aleatóriamente imagens negras, imagens vazias, flashes de corpos, fotogramas de momentos que não consegue localizar.. passado?presente?.. não sabe.. mas sabe que são toques, são beijos… camas. Vermelho. Prazer. Sente-se cair num vácuo, a escorregar pelas paredes oblíquas de vermelho e tontura…. Uma mão no fundo das costas impede que caia. Lentamente toma essa percepção. Abre os olhos. Uma cara. Um Homem. Olhos nos olhos. Sorriso de canto da boca, e sente-se a molhar os lábios em convite e antecipação. Pega-lhe na mão. Hoje o vermelho tomou posse, e ela sabe que hoje vai fingir que não há solidão. Esta noite vai encher o seu espaço com calor, com cheiro a suor e vozes sussurradas, que mais tarde gozarão dela como ecos, quando o dia amanhecer e a solidão voltar a invadir o seu espaço.. vazio, branco. E não vermelho.
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